segunda-feira, 26 de julho de 2010

A vergonha no futebol

Hoje eu fiquei a pé, coisa de quem tem um automóvel experiente, com vários quilometros de estrada, que simplesmente resolveu que não funcionar, fazer o que, mandei arrumar. Eis que ao meio dia, tive de sair a pé, em busca de um almoço, e foi neste trajeto que aconteceu um fato que mostrou-me como o futebol influência a vida das pessoas.

Estavam, em uma rua de pouco movimento, dois meninos de no máximo dez anos e jogavam com uma bola velha, toda destroçada, a brincadeira era uma espécie de chute a gol, um deles, metido a goleiro jogava  a bola a ar para que a mesma  quicasse em frente ao segundo que de pronto arrematava tentando acertar uma goleira improvisada com madeiras velhas, era praticamente uma execução, visto que pela relação distância-força-tamanho da goleira, poucas eram as chances do arqueiro defender.

Vinha eu pela rua, a cerca de cem metros do jogo, caminhando pensando no nada e observando a disputa, pensando na vontade daqueles dois meninos de jogarem futebol ao meio dia, eis que quando chego perto e o goleiro joga a bola para cima bem na minha direção, confesso que bateu uma vontade de bater a bola e fazer o gol, mas, mais que depressa o pequeno atacante me antecipa e bate a bola com uma força até que considerável, porém  muito além da goleira, em um pátio fechado, provavelmente casa de um dos dois, mas o que mais me impressionou foi a vergonha estampada na face daquele menino, ele mostrava em seus traços todo seu sentimento por ter jogado aquela bola que quicava em frente ao gol para tão longe de seu objetivo. Me olhou quase que suplicando para que eu não contasse nada a ninguém sobre o que acabara de ocorrer, via-se em seus olhos que estava decepcionado com sua atuação e iria voltar a treinar para que aquilo jamais voltar a acontecer.

Ele nunca havia me visto na vida, e talvez nunca mais verá, mas ficou extremamente envergonhado ao ver que eu presenciei aquele erro que acabara de cometer, um erro em uma brincadeira entre dois amigos frente a um completo estranho, mas acima de tudo um erro terrível para sua curta trajetória como futura promessa do futebol. Ao perceber toda aquela situação eu continuei minha caminhada de volta ao trabalho com uma descoberta que pode revolucionar o futebol, descobri finalmente o que falta a nossos jogadores que cometem erros infantis e seguem jogando como se nada  tivesse acontecido. Falta a eles a vergonha de errar, a vergonha de protagonizar lances bisonhos, mas que por serem tão frequentes acabaram tornando-se rotina, tomara que em algum momento de suas existências, nossos jogadores recuperem essa vergonha e passem a justificarem o fato de estarem em campo, ganhando as custas de pessoas que recebem salários infinitamente menores, mas que tiveram a dignidade e a vergonha de não querer mostrar diante de tantas pessoas erros futebolísticos tão terríveis.

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